Há momentos na vida que nos marcam. Sejam eles simples, vindos de um acaso, como que acontecem "ali bem ao virar da esquina", ou complexos, tal como a minha ascensão ao cume do Everest que aconteceu após anos de treino e preparação física e mental... acordei mesmo na parte em que estava ajoelhado, junto da bandeira de Portugal que tinha acabado de colocar junto ao teto do céu...
Sim... existem momentos que acontecem sem razão, e outros que poderão ter tudo a ver com a nossa capacidade de alcançar os nossos sonhos. Foco e fé serão dentro de mim as palavras mais acertadas a transportar no caminho. Não gosto da palavra persistência, essa remete-me sempre para teimosia, que dentro de mim, não faz sentido nos diversos mundos da arte, pois estes são construídos de forma contínua ao longo de uma vida, logo é uma outra forma de vida, e de estar na cena. Não vamos dizer que um idoso é um persistente teimoso apenas porque está vivo...
Tudo começou em 2013, aquando aceitei um convite do meu amigo e maestro Luís Antunes, a participar como convidado com o Grupo Coral do Orfeão do Entroncamento. A música escolhida pelo Sr.º Luís foi o "Angels" do Robbie Williams. Aquela música que me remete, e a muitos seguidores do programa "Operação Triunfo", para um momento televisivo importantíssimo da RTP, em 2003.
Nesse serão em direto e naquele instante, a RTP destronou o líder de audiências em anos no horário nobre, o "Herman SIC". O mais importante para mim na altura era o meu interior, estava a passar por uma altura em que precisava de me libertar, de marcar a minha posição, o meu espaço dentro daquele contexto, consegui-o de facto ao interpretar esta canção que me vincou para a vida e a muitas pessoas que ainda hoje recordam esse momento e que ainda me pedem para a cantar.
Tinham passado 10 anos e surgiu o convite do Sr.º Luís, agora, passados 15 o momento repetiu-se em prol de um concerto do Grupo Coral do Orfeão do Entroncamento, para as Festas de São João e da Cidade do Entroncamento.
Há, de facto, momentos na vida que nos marcam e que fazem parte de nós para todo o sempre. De nós e de todos os que vivem esses momentos connosco, tornando-os igualmente seus.
Cantar à frente do Orfeão, como solista, é uma experiência super enriquecedora e gratificante.
Cantar em conjunto não é fácil, quer seja a cantar uma simples segunda voz ou em coro a quatro ou mais naipes. Cantar e conseguir ouvir qualquer outra voz ou instrumento, por mais distante que este esteja de nós no palco, é meio caminho andado para que o trabalho seja bem feito. No dia a dia chamo a isso de cidadania, num conjunto coral ou outro chamo de respeito. Há que haver respeito pelo próximo e, em cima de um palco, pela arte. Temos de ser inteiros para servir a arte e não inteiros para benefício próprio... Integridade moral.
São dois mundos em universos distintos e que em nada se assemelham. Ambos têm o seu trabalho, o seu esforço e dedicação, diferentes por certo devido a responsabilidades e posturas igualmente distintas, quanto ao valor e ao que fica registado isso só cabe a um destes mundos. Tal qual: Amor versus Prazer.
Um grupo de cantores não se torna um coro com qualidade apenas pelo fato de se reunirem para cantar. Através da direção do Maestro nos ensaios detalhados e da construção de uma identidade coletiva, (como que familiar), é que este agrupamento se torna um organismo sonoro, com características únicas e qualidade artística.
Trabalhar assim realmente vale apena, e quando juntamos todos estes fatores, que no fundo nos remetem para os mais diversos caminhos do amor, nas memórias e contextos, a magia acontece.
Porque há realmente momentos na vida que nos marcam, obrigado Grupo Coral do Orfeão do Entroncamento, por mais um que levo naquele cantinho especial do coração.
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